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30.11.07

Onde estará Wally agora?

Há 19 dias, quando Eduardo decidiu voltar da padaria por uma viela arborizada e fugir do barulho da avenida, demos de cara com uma gatinha magrela, cinza e salmão. Lembrei logo do conselho da Denise de ficar trancada em casa, pedir delivery, ler um livro do Manoel de Barros, ouvir Loreena Mckennitt. Mas, àquela altura, eu já tinha visto a bichinha judiada e não adiantava correr.

Busquei um pouco da ração dos bigodes e deixei num cantinho. Com as nossas figuras ameaçadoras em seu campo de visão ela se recusava a margear a sacola. E se a gente tentava fazer um social, desaparecia entre os carros estacionados. Demorávamos, então, uma eternidade até perceber a cabecinha espiando do novo esconderijo, sempre metade do rosto visível.

Segunda-feira, toquei o interfone do predinho comercial, cuja garagem Wally parecia fazer de lar (e de banheiro, fato que deixava os funcionários furiosos), e prometi tirá-la o quanto antes. Lucia só precisaria me ligar quando ela aparecesse. Segundo os vizinhos, a anti-social se esquivava pela rua há cerca de 15 dias.

Retornei inúmeras tardes. Depositava a comida no mesmo lugar, preparava a máquina fotográfica, assistia seu rabinho sumir sob os entulhos da garagem, sondava outros moradores. Wally era incapturável! Principalmente sem caixinha de transporte (ainda com o Léo, em Santana)!

Terça-feira, na última visita ao predinho, a pessoa que me recebeu proibiu de alimentá-la. Não a queriam mais lá e mesmo com a creolina a "peste" insistia em ficar. Pelo cheiro insuportável, aposto que não tinha escolha. Acomodei o potinho na calçada (pública!) e parti aborrecida. O estômago dizia que o tempo chegava ao fim.

Hoje, ao passar pela viela na saída do banco, resolvi checar se a tonelada de ração permanecia acessível. Encontrei Wally deitada e, pela primeira vez em semanas, consegui me aproximar sem que ela fugisse. Estava dura, os olhos abertos, saliva espumante na boca. Sentei ao seu lado inconformada. Todo mundo sabia que pretendia arrumar-lhe uma família. Por que não esperaram um tico mais?

Ainda tive de ouvir, nauseada, que, na faxina da manhã, haviam encontrado sua ninhada inteira apodrecendo sob os mesmos entulhos da garagem. Por isso que ela (ao contrário dos filhotes) resistia à creolina! Deviam faltar-lhe subsídios racionais para entender o motivo da inércia repentina daqueles pequenos corpos.

Sem achar o assassino, pedi um pano e um saco de lixo, embrulhei a estátua com o cuidado quase infantil de não quebrá-la e procurei um pet shop. Susan dissera que, por R$ 50, eles entregavam o bichinho à prefeitura para cremação. Era o mínimo que minha consciência culpada podia fazer. Mas o freezer estava lotado e o atendente não se solidarizara.

Continuei arrastado o saco pelo bairro, enquanto o vento gelado secava as lágrimas de ódio na blusa. Sorte que existem meninas como as da Clínica Veterinária Kennedy (4122-5675), que acolheram Wally junto com o meu desespero e não aceitaram um centavo sequer. Torço para que, nesse momento, ela esteja decorando uma nuvem de Natal bem rechonchuda com seus bebês serelepes. E se o Papai Noel permitir que o infeliz que a matou seja devorado pelo peru da ceia, agradeço.

P.S.: Esse post não tem foto porque eu prefiro lembrar dos olhinhos da Wally me fitado a distância, ansiosos para atacar a comida.

12 comentários:

Anônimo disse...

REVOLTANTEEEE!!!

Quanto mais eu fico sabendo de histórias como essa, mais fico com raiva da nossa espécie, dotada de uma capacidade incrível de ser ignorante!! Não me conformo!!! Não desejo puramente o mal pra essas pessoas que maltratam e assassinam (isso mesmo, ASSASSINOS!!) os bichinhos, só a justiça...Precisamos acreditar que ela existe, se não aki, em algum lugar...

Anônimo disse...

;(

Os "humanos" são seres desprezíveis, incapazes de ter um pouco sequer de paciência e sensibilidade. Este anjinho só queria proteção aos seus filhotes, por isso, não abandonou o lugar, mesmo infestado de maldade e creolina.

Você fez o que pôde.

Anônimo disse...

Começei a semana com um gosto amargo na boca! Silvana

Anônimo disse...

Ah, Beatriz, Beatriz... No momento, não consigo escrever nada de "útil" a vc, apenas soluçar alto... Que qrandessíssima M. é a raça humana!

Denise disse...

Por favor, eu insisto: fique um pouco em casa! Seu coração não vai parar de doer vendo tanta maldade e a gente não pode ir aí correndo pra te ajudar... nem para dar um abraço.
Eu tb estou cada vez mais decepcionada com os ditos "animais racionais", ou humanos como desejam ser chamados. Para se livrar de um "incômodo", matar resolve. Como se um animalzinho fosse um mosquito da dengue, ou um escorpião. Venha, mude pro interior e faremos uma linda fazenda de bigodes.
Denise

Anônimo disse...

Eu não conheci essa gatinha, mas também chorei.
Que mal essa gatinha poderia fazer a alguém pra que precisasse ser morta?
Esse tipo de coisa me deixa revoltada!!! Só o que pode me conformar é a idéia de que quem fez isso mais cedo ou mais tarde vai pagar.

Drica Menezes disse...

olá! fiz um post sobre a tua campanha e tem uma guria do blog Nó na garganta q ficou interessada e quer t contatar pra postar algo da tua campanha do blog dela tbm...se vc quiser, manda um comentario pra ela no blog:
http://nonagarganta1.blogspot.com/

bjao! boa sorte! :)

Anônimo disse...

Putz...nem dá pra escrever nada. Você sempre me faz rir, mas chorar hoje foi inevitável. Tomara que melhores cenas apareçam pra você conseguir esquecer esta. Um abraço forte,
Juliana.

Patrícia disse...

:_(

Anônimo disse...

Menina que coração lindo que tens!!! Bjs

[www.muleka.serelepe.zip.net]

Anônimo disse...

Denise, não me convida duas vezes! Estou cada dia mais tentada a fugir do caos...

Drica, obrigada pela ajuda na divulgação do caso dos esqueletinhos. :)

Anônimo disse...

Estou passada com esse post.